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Três vezes personagem

 

De todas as pessoas entrevistadas para o “Marcado na pele”, o Ramon foi o personagem mais inevitável. Ele já seria ouvido pelo simples fato de ter traçado as costas da Marina, pois uma tatuagem tão diferente merecia ter seu desenhista consultado. Afinal, ele tinha achado isso estranho ou não?

 

Todavia, aquilo não foi incomum para o tatuador, pois era a primeira vez que ele tinha feito algo do tipo. Ramon já havia sido procurado anteriormente para traçar uma linha entre os ombros de outra cliente. A diferença é que a primeira foi na frente e não nas costas. “Não me é estranho esse tipo de ideia e é uma das que mais me instiga em tatuar, pois é uma coisa totalmente formal, mas que mexe com o corpo”.

 

Ele também foi achado durante um evento sobre quadrinhos, realizado no Museu da Indústria do Ceará, quando aquelas canetas fixadas em seu antebraço que pareciam escrever em letras garrafais “OLHA PRA MIM, ME ENTREVISTA”. Qual não foi minha surpresa ao ouvir o nome daquela pessoa tatuada?

 

O material de trabalho/desenho, intercalado com uma paleta de cores, faz parte de um projeto ainda inacabado de um braço inteiro, o qual traduzirá uma espécie de projeção de identidade profissional: o que fazer, em que local e através de que. Matéria-prima valiosa para quem buscava traçar perfis através de tatuagens.

 

Acima das canetas, um conjunto de símbolos envolvendo antropofagia, triskelion, balão de quadrinho e infinito, “é como se fosse ‘falar de gente, infinitamente, de forma equilibrada, através de quadrinhos’; isso é uma meta para a vida inteira”. Para concluir o projeto falta apenas a representação de Fortaleza, que um dia será estampada no meio do braço.

 

Porém, como nada na vida é tão fácil e perfeito, descobri o outro lado de Ramon: o esquerdo. Esse, totalmente abstrato, porém coerente em sua falta de lógica, pois se tratava, acima de tudo, do braço de um artista. “Eu desenho e tatuo, então tenho muita facilidade em traduzir minhas ideias visualmente. Portanto, se eu tenho vontade de tatuar uma coisa, desenho na hora e já posso colocar na pele”.

 

Houve ainda um terceiro fator que tornou a entrevista indispensável por motivos totalmente pessoais: as tatuagens “YES” e “NO” na palma das mãos. Elas são inspiradas em um personagem do livro "Extremamente Alto e Incrivelmente Perto", de Jonathan Safran Foer, obra na qual ambos pusemos o selo de “favorita”. Critério de noticiabilidade: proximidade. 

 

Agora, como o personagem, ele também é um inquilino. Mas diferente do que acontece em "Extremamente Alto e Incrivelmente Perto", esse residente trouxe muitas palavras ao invés de perdê-las.

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