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Desejo e reparação 

Samya Menezes, 27 anos

Oficial de máquinas

Desejo. Uma simples palavra é capaz de traduzir uma séries de escolhas, impulsos,, determinações, fixações. “Eu não tenho nenhuma tatuagem que seja um símbolo. Tenho porque olhei o desenho e quis fazer. Porque eu gostei e acabou”.

 

A vontade, misturada a uma dose de rebeldia, num primeiro momento fez pousar uma borboleta na nuca e pintou um kanji de amizade (友情) no pé, símbolo que deveria ser uma ação coletiva, mas o impulso e a pressa fizeram-no um ato solitário. Mas, tanto faz, pois o que vale é a impressão que ficou na lembrança e na pele.

 

A cobiça fixou as ventosas de um polvo no quadril. Dessa vez, o desejo foi pensado, avaliado, pesquisado e trabalhado. “Eu tô afim de fazer uma coisa, então vou lá na internet e começo a procurar mais ou menos como é que é”. E um pouco além do último tentáculo, brotou um trevo de quatro folhas, pois a sorte também é um anseio e necessidade.

 

A aspiração por proteção e bençãos divinas fez aparecer uma imagem de Nossa Senhora, a exemplo de Eva, na costela, e a fé escreveu seu nome para sentir o pulso crente. “Eu vou a todas as igrejas; não tenho uma específica. Vou na Igreja Católica, na Messiânica, pro centro espírita e também vou para o terreiro de Umbanda, onde recebo banho e reza. Não tenho uma religião, eu acredito em coisas que são do bem e positivas pra mim”.

 

Mas o desejo nem sempre impulsiona as melhores escolhas a longo prazo. Foi assim com um pé de flores, um pouco incômodo e desbotado, mas não de todo desagradável. Foi assim com um coração feito de vários pedaços que inconvenientemente se tornou um coração em pedaços, um propósito perdido. “Eu me arrependi porque terminou, mas não me senti mal em ter feito. Só pensei: vou apagar!”

 

Do arrependimento surgiu uma nova vontade, a de reparar aquele vestígio, e um desafio. “A que eu queria não dava certo, uma flor de lótus, e a dos traços indianos também não, porque tinha que ser algo mais fechado. Aí eu falei: e um peixe, será que não dá pra fazer?”. Eis que uma carpa surgiu, após cruzar todo o globo terrestre para conseguir descer e se alojou em um ombro já marcado, simbolizando, assim, mais um objetivo realizado.

 

“Tem muita gente que tem preconceito, acha que quem tem tatuagem é malandro, rebelde. Mas eu não vejo tatuagem como medidor de caráter. Pra mim, é uma arte que a pessoa gosta e tatuou no corpo”.

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