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A estética do corpo 

Karlo Kardozo, 54 anos

Servidor público e ativista cultural

A tatuagem assume no corpo uma função comunicativa. Ela é composta por uma imagem, estética, associada a um significado tanto social quanto individual.

 

“Uma das coisas que dão unidade à minha vida é a estética, o prazer, a harmônia, como modos e regra de concepção. Ela sempre esteve presente na construção do conhecimento, da política e das tatuagens, que é uma ‘simbologização’ - apesar de essa ser uma palavra que não existe. É tornar símbolo as tuas concepções, imprimir no corpo”.

 

Mas, diferente da tatuagem, as definições não são fixas, ela variam, mudam e se alteram, como as vivências. “Eu tinha uma lua porque era o desenho mais fácil de o cara fazer. Depois me veio a ideia de acrescentar o sol. Feito isso, achei que no braço, esteticamente, tava solto, e me veio a imagem da serpente como uma continuação. Aí eu criei a história. Hoje, quando me perguntam o que é, eu digo que é o símbolo da criação”.

 

Pode também vir de um sonho sem sentido, mas impressionante, no qual uma adaga trespassa um braço que sangra e onde uma mosca repousa. Ou de uma homenagem a outros símbolos, religiosos, como o cálice de São Bento e um São Jorge, mesmo que este tenha trocado o cavalo por uma bike. “Pra mim, cada ciclista hoje é um ativista disputando espaço pelo direito da via compartilhada. Então cada bicicleta que tá na cidade é um São Jorge que ao invés de lutar contra o dragão, ele caminha por ele”.

 

Para cada desenho, uma narrativa, seja ela pensada antes ou depois do risco. “O mito não necessariamente é criado antes do rito, ele pode vir depois do signo. E eu adoro inventar e contar histórias. Por exemplo, uma vez me perguntaram porque os dois braços eram diferentes e eu expliquei que era porque o esquerdo [em que predomina o vermelho e preto] era o do sofrimento e o direito [colorido], do poder".

 

Mas independente de símbolo e estética, tatuagem é uma obra de arte e faz parte do trabalho com o corpo. “Eu já pensei até em espichar a minha pele. Pedir para os meus filhos cortar e expor. Mas depois que eu morrer, é claro”.

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