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No início e no fim

 

André não sabe, mas ele foi uma das primeiras pessoas que eu fotografei logo quando entrei na faculdade. O trabalho, um ensaio sobre tatuagens, não era meu, e sim de um amigo - por isso não tenho o registro - que, aproveitando-se do meu gosto e disposição para fotografar, fez com que eu executasse cerca de 60% do projeto.

 

André provavelmente não lembra do episódio, visto que os artesãos que frequentam as calçadas da Avenida da Universidade são constantemente assediados por aspirantes a fotógrafos, jornalistas, publicitários e cineasta dos cursos do Instituto de Cultura e Arte da UFC. Mas lembro bem dele porque, de um quarteirão com três “hippies”, ele foi o primeiro (e único) que logo se disponibilizou e aceitou o ofício de modelo. Apenas por boa vontade.

 

André, então, assentiu ser personagem mais uma vez. O contato foi às pressas, correndo já atrasada para a faculdade. “Estou fazendo um trabalho sobre tatuagem. Posso te entrevistar? Vai ter texto, foto e vídeo. A gente pode marcar para amanhã?”. A resposta sempre foi “tudo bem, como você quiser”.

 

André, porém, esqueceu e no dia seguinte não estava lá. Mas, ocasionalmente, apareceu pela calçada outra vez. Um dia, então, quando estava quase subindo na bicicleta para ir embora buscar o filho na escola, concordou em sentar numa pedra e conversar por alguns minutos com uma quase jornalista.

 

André tinha que ir embora, por isso sugeriu que o restante da entrevista fosse feita no fim de semana, com mais tempo e calma perto da Ponte Metálica. No dia marcado, um pouco atrasado, lá estava ele estirando sua manta no chão, arrumando cuidadosamente seu artesanato e posando para uma bateria de fotos. Ao mesmo tempo, atendia e conversava com os eventuais clientes que passavam por ali.

 

André fez uma ressalva, entretanto. Não queria ser filmado por aquela câmera “grande”, pois tinha vergonha. Mas por um smartphone, tudo bem, “é pequeno… não intimida tanto”.

 

Ele não sabe, mas foi uma das últimas pessoas que eu entrevistei antes de sair da universidade e, desta vez, o trabalho também sobre tatuagem era meu. Projeto pensado para aproveitar meu gosto e disposição por escrever e fotografar. E por causa desses momentos e registros, ele já não é mais apenas mais um porto-alegrense “maluco de estrada”, ou “um dos hippies que ficam lá pela universidade”, ele é o André.

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