
Sem explicação,
mas cheia de significado
Marina Mota, 24 anos
Jornalista e designer
O que é uma linha? À priori, um fio, um risco, um traço, a ligação entre dois pontos. Pode ser um condutor de rede elétrica, um sistema de comunicação, uma trajetória. Uma sequência de raciocínio lógico, um conjunto de rituais religiosos, uma referência a comportamento brando. Pode ser divisão ou continuidade, uma indicação de movimento ou de inércia, como o horizonte.
Mas, então, o que é uma linha? Pode ser uma tatuagem. Algo marcado na pele, de supetão, para quebrar o movimento do corpo e, ao mesmo tempo, se mexer junto a ele. Algo estático, porém modal. “Quando eu me mexo, ela mexe junto comigo, vai junto e, dependendo do que eu faça, vira uma curva”.
Uma vivência estética para quem gosta de experimentar sensações diferentes. “Eu acho massa uma coisa que me incomoda a ponto de eu achar diferente. E esse lance da tatuagem, às vezes, eu acho que se eu fizer alguma coisa, ela vai se comportar diferente. Às vezes, eu até mudo a minha postura porque eu lembro dela”.
Uma linha pensada, como um limiar de submersão dentro d’água, ou uma linha impulsiva, que acompanha o fluxo do pensamento de quem maneja a caneta (ou a agulha), que pode ser curva, dar voltas e se transformar em um ou mais figuras. Ondas, ondulações, círculos ou um ramo, talvez. É como um trabalho de Saul Steinberg, que fazia do traço mais simples, fino, o desenho para criar as mais diversas e complexas ilustrações.
“Tem gente que leva a tatuagem para o lado mais simbólico, de lembrança que quer levar consigo. Tem gente que é estético, assim como uma maquiagem ou uma roupa, faz um desenho para ser bonito”.
Uma tatuagem feita para não ter explicação, mas que significa continuidade, movimento, amplitude, fluxo, vida. Uma linha perfeitamente imperfeita. “Eu acredito no poder de uma linha”.