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Um sopro de vida

Marília Oliveira, 31 anos

Professora e intervencionista urbana

Eu, alquimista de mim mesmo.

 

Pôs, certa vez, Clarisse Lispector em um livro, no qual um personagem autor tentava explicar seu processo de criação. Pôs também, mesmo que indiretamente, no braço de uma professora que via as marcas propositadamente feitas no corpo como uma forma de traduzir a si mesma.

 

"As tatuagens são muito o que eu sou mesmo. Elas representam muita coisa. E eu acho que cheguei num ponto de maturidade, tanto de tatuagem, quanto de idade, que eu quero me aquarelar mais, eu quero alguns desenhos, frases e quero me pintar mais".

 

Sou um homem que se devora? 

 

Ou, talvez, uma mulher que se define e desenha. Pois, de um certo ponto de vista, "as tatuagens eram a única forma de realmente dar personalidade ao corpo. Mais do que engordar, emagrecer, colocar silicone ou mudar o corte de cabelo. As tatuagens sempre diferenciam as pessoas, dão um toque de arte a qualquer um. Todo mundo pode ser arte".

 

Não, é que vivo em eterna mutação, com novas adaptações a meu renovado viver e nunca chego ao fim de cada um dos modos de existir.

 

E a mutação é a capacidade de redefinir de mudar(-se), de causar e sofrer alterações de significados e pensamentos.

 

"O que mais me interessa na aquarela é porque é como se eu tivesse aqui as coisas todas no estado puro. Não tenho formas, pois tenho todas as cores e posso criar o que eu quiser. As cores diluídas no corpo vão estar sempre ali e como elas não têm uma forma fixa, vão sempre acompanhar o que eu sou, porque eu tô sempre mudando".

 

Vivo de esboços não acabados e vacilantes.

 

Pois, apesar de representarem histórias vividas, as marcas também são avisos para o futuro. Lembretes de momentos de ruptura e mecanismos que estimulam o seguir em frente, a busca pela completude e perfeição.

 

"Eu quero dar uma unidade a esses desenhos, eles têm que se amalgamar, eles têm que ser eles todos como eu, tudo junto".

 

Mas equilibro-me como posso entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus.

 

E o equilíbrio vem expresso e impresso no corpo, como um álbum privado de forma exposta, um sopro de vida que pulsará cores e memórias por toda a eternidade da matéria.

 

"Eu acho que isso é exatamente o que eu sou: alguém que se marca. E essas escolhas têm haver com a profundidade de como essas coisas me atravessam. É inclusive justo com o meu corpo que eu marque as histórias, evoluções e crenças, porque o tempo faz isso naturalmente, então eu tenho o direito de também poder escolher como eu quero registrar as mudanças e trabalhar junto com o tempo".

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