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Um velho tatuado

 

Há uma série de estigmas e questionamentos que habitam o imaginário do senso comum à respeito da tatuagem. Um dos principais é: e quando envelhecer? Precisava, então, de alguém que pudesse responder: “serei um velho tatuado”.

 

Como a tatuagem é algo comumente relacionado a pessoas no auge dos seus 20 e 30 anos, conhecer alguém que decidiu tatuar-se amplamente a partir dos 50 foi algo bem interessante. Essa pessoa era Karlo.

 

Suas tatuagens não são nada discretas; elas ocupam os dois braços e antebraços, logo não são desenhos que estejam constantemente escondidos. Ainda mais no Ceará, terra bem quente que faz qualquer camisa de manga longa abotoada até o pulso ser uma opção de vestimenta usada apenas em situações de extrema necessidade. “Eu tenho 50 anos. Depois dos 50 você tem uma noção do que está fazendo. Tem coisas que eu não tenho mais vergonha ou constrangimento”.

 

Karlo pode até ser a imagem de uma pessoa mais velha tatuada, mas com dez minutos de conversa percebi que, na verdade, ele era mais jovem do que eu. Ele tem uma relação com o corpo muito mais racional, pratica esportes, se preocupa com uma alimentação saudável e  é cicloativista. A primeira sugestão de encontro que ele propôs, inclusive, foi durante um passeio de bicicleta, que embora eu tenha aceitado à princípio, senti um enorme alívio quando não deu certo. Resumindo: ele tem muito mais resistência e disposição física do que esta pessoa de 26 anos que vos escreve.

 

Nos encontramos, enfim, num restaurante e conversamos sentados - ufa! A conferência foi longa, agradável e regada a cerveja. Ficou então evidente a representatividade que as tatuagens tem para ele. “Pra mim, marcar na pele, no corpo, é uma vivência, um momento, uma escrita, um livro de cabeceira”.

 

E os olhares, incomodam? “Eu acho conversa fiada. Na sociedade em que a gente vive, a tatuagem ainda é uma coisa de preconceito, principalmente as grandes ou que cobrem determinadas áreas do corpo, como o braço, por exemplo. Não tem como você estar conversando e o pessoal não ficar olhando. Então, se você não gosta, não faça. Se for pra esconder, escolhe um lugar escondido. Ou então ande de burca, porque se você faz é pra mostrar”.

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